O que o “Serviço de Óbito em BH” não conta: a história por trás da burocracia

Como escolher um agente funerário
Entre a formalidade do termo e a necessidade de um abraço: o verdadeiro trabalho
O erro de se prender ao jargão e a dica para encontrar a humanidade no serviço
Minha cliente, uma senhora na casa dos setenta, sentou-se na cadeira à minha frente. Postura impecável, uma pasta de couro antiga no colo. “Doutora Lilian, preciso contratar o serviço de óbito em BH para o meu marido”. A voz dela era firme, quase como se estivesse discutindo um contrato de aluguel. Mas as mãos, que seguravam uma xícara de chá, tremiam de leve, fazendo a porcelana tilintar. Ela estava se escondendo atrás da formalidade do termo para não desmoronar.
O desafio, para mim, não era o jurídico. Era o humano. O erro seria entrar no jogo dela, responder com a mesma formalidade, e simplesmente “executar o serviço”. Eu sabia que por trás da busca pelo “serviço de óbito em BH“, havia uma mulher de luto, precisando de amparo. O cheiro do meu escritório, que para mim é neutro, de papel e café, pareceu de repente frio demais para aquele momento. Eu precisava quebrar aquele gelo.
A dica que apliquei e que sempre funciona: troque o jargão pela vida. Deixei os papéis de lado, me inclinei um pouco e perguntei: “Dona Alice, antes de falarmos do serviço, me fale um pouco do seu marido. Qual era a música favorita dele?”. Ela me olhou, surpresa. Os olhos marejaram. E então, ela desabou a falar. Falou por uma hora. Do samba que ele amava, do time de futebol, do jeito que ele tomava o café. Ao final, a funerária que acionamos não foi contratada para um “serviço de óbito em BH“. Foi contratada para fazer uma despedida para o “Paulinho do samba”, com a música dele tocando ao fundo. A humanidade que encontramos juntos foi o verdadeiro serviço prestado.