Como ajudar um amigo em luto: 5 maneiras de apoiar sua dor

O Roteiro que Ninguém Quer Ler: Um Guia Pessoal Para o Dia Seguinte

 

Existe um roteiro. Um checklist burocrático e frio que se impõe no exato momento em que seu mundo emocional desmorona. Quando meu pai faleceu, no hospital, depois de uma longa batalha, o médico nos deu os pêsames e, em seguida, um pedaço de papel. A declaração de óbito. E com ela, o início de uma maratona que eu não fazia ideia que existia. “O que fazer quando alguém morre” deixou de ser uma pergunta retórica e virou um manual de instruções para o pior dia da minha vida.

A primeira coisa que descobri é que você se torna uma espécie de produtora de eventos. Um evento para o qual ninguém quer ir, mas todos precisam. O primeiro passo, ainda no corredor do hospital, com o cheiro asséptico de álcool gel impregnado em tudo, foi ligar para a funerária. Com a declaração de óbito em mãos, eles poderiam começar os trâmites. Uma dica fundamental que aprendi na marra: não perca esse documento. Tire uma foto dele assim que o receber. Ele é a chave que abre todas as próximas portas.

Meu irmão e eu nos dividimos. Ele, mais pragmático, ficou com a parte do cartório. Eu, com a parte da despedida: velório, flores, avisar a família. O erro monumental foi tentar fazer tudo por telefone. “Ah, pode escolher a urna por foto no WhatsApp”. Não faça isso. Ver uma imagem 2D de um caixão não te dá a dimensão do que aquilo significa. Fui pessoalmente à agência. Tocar na madeira, sentir o peso, ver o acabamento… foi doloroso, mas necessário. É uma escolha importante demais para ser feita por uma tela de celular.

 

Navegando na Burocracia do Luto

 

Enquanto eu estava imersa em decisões sobre coroas de flores — e que decisão surreal é essa, escolher entre cravos e crisântemos para o seu pai —, meu irmão enfrentava a fila do cartório para registrar o óbito e emitir a certidão. Um detalhe importante para quem é de BH: você precisa saber se vai ser sepultamento ou cremação para registrar. O cartório pergunta. E você precisa levar os documentos do falecido e do declarante. A burocracia não espera o luto passar. Ela te atropela.

A reação da família foi um misto de apoio e paralisia. Tios e primos ligavam, choravam, mas poucos sabiam o que fazer na prática. “Precisa de alguma coisa?”. Sim, eu precisava. Precisava que alguém fosse ao banco comunicar o falecimento. Que alguém ligasse para o plano de saúde para cancelar. Que alguém descobrisse como cancelar a linha de telefone. Minha dica de ouro: delegue. As pessoas querem ajudar, mas não sabem como. Faça uma lista de tarefas práticas e peça ajuda. “Tio, você pode cuidar disso pra mim?”. As pessoas se sentem úteis, e você ganha um respiro.

O cheiro da sala de velório é algo que nunca esquecerei. Uma mistura de flores, café e o ar parado da dor coletiva. Ver meus amigos e familiares ali foi um bálsamo. O abraço de uma amiga de infância, o olhar silencioso de um colega de trabalho. A rede de apoio é o que nos impede de afundar. A minha escolha foi por um velório mais curto. Meu pai era um homem discreto, não gostaria de uma despedida longa e cansativa. Respeitar a personalidade de quem partiu, até no adeus, é a maior homenagem que podemos prestar.

 

O Manual que se Escreve com a Experiência

 

Hoje, quando olho para trás, vejo que aquele dia foi um borrão. Uma sucessão de tarefas executadas em modo automático. Escolher a roupa, escrever a nota de falecimento, decidir sobre a missa. É um roteiro cruel. Mas ter passado por ele me deu um conhecimento que eu não queria ter, mas que agora sinto a necessidade de compartilhar.

Tenha uma pasta com os documentos importantes dele (ou dela). Saiba onde estão as senhas, os contratos. Fale sobre os desejos: cremação ou sepultamento? Doação de órgãos? São conversas difíceis, sim. Mas são infinitamente mais fáceis de ter com um café na mão, numa tarde de domingo, do que no corredor de um hospital. A experiência me ensinou que o maior ato de amor que podemos deixar para quem fica não são bens materiais. É a organização. É um roteiro claro para o dia em que o roteiro deles se encerra. É deixar o caminho livre para que eles possam apenas sentir. Apenas chorar. Apenas começar a jornada do luto, sem o peso do mundo nas costas.